Comportamento
Celular no trabalho, proibir ou liberar?
Para consultora o uso correto das tecnologias precisa ser estimulado nas empresas de forma organizada
Por: Rodrigo Nascimento
Especial ADI/RS
Entre uma série e outra de exercícios de seus alunos, o estagiário de Educação Física Daniel Vanzin, 26, dá sempre uma “espiadinha” no telefone celular. Ele faz parte de uma legião de usuários de redes sociais que passam o dia conectados. Porém, a responsabilidade de educador físico fala mais alto e ele garante nunca ter deixado de observar a postura do aluno durante um treino.
Vanzin talvez não saiba, mas está no centro de uma grande discussão. Usar ou não usar redes sociais e telefones multifuncionais durante o horário de trabalho? Para quem trabalha com relações humanas, a razão está com a ética e com o comprometimento do gestor e do funcionário. Diante da lei, em caso de desobediência a uma determinação do patrão, o hábito pode tornar-se um motivo para uma demissão.
“O chefe deixa usar. Eu combino o horário das aulas com os alunos, eles perguntam sobre quem está na academia e assim a gente vai conversando, sem descuidar de quem está aqui”, justifica.
Vanzin ainda vai além. Segundo ele, há quem deixe a vida social de lado para viver em uma realidade paralela dentro das redes sociais e só existe porque publica fotos e recebe “curtidas” em rede. “Isso é uma vida de ficção. O telefone celular não pode tomar conta da rotina da gente.”
O estagiário de educação física explica que fora da academia também pouco usa o telefone. Prefere o horário da noite, antes do sono chegar, para atualizar-se do resumo do dia nos aplicativos de compartilhamento de fotos, mensagens e tudo mais que é efêmero e tem data para sair do ar. “Neste momento, quando eu deito na cama, fico cerca de uma hora com o celular em funcionamento. Durante o dia, é só uma espiadinha mesmo.”
Ética
Para a consultora em desenvolvimento organizacional Ana Giovanoni, o uso correto das tecnologias precisa ser estimulado nas empresas de forma organizada e em prol do crescimento pessoal e profissional dos trabalhadores. “A permissão ou proibição do uso de celulares multifuncionais deve fazer parte do código de conduta, ou das políticas de gestão de pessoas ou da política de uso dos recursos tecnológicos de cada empresa.”
De acordo com a consultora, a discussão passa pela ética no uso de redes sociais e tem que fazer parte da cultura dentro e fora da empresa. “Se você proibir o uso das redes sociais no ambiente de trabalho, poderá estar sujeito a uma publicação no Facebook, realizada pelo seu funcionário no fim de semana. O texto poderá ter comentários de situações ocorridas no ambiente de trabalho”, alerta.
Maturidade
Ana diz, ainda, que a discussão sobre usar ou não dispositivos que possam “tirar” a atenção dos funcionários durante o trabalho deve estar alinhada com a maturidade na gestão de pessoas. “A organização deve promover práticas e padrões que elevem o desempenho, a intelectualidade, o desenvolvimento das competências e o estímulo à criatividade e à inovação dos seus colaboradores.”
No mundo corporativo, a preocupação muitas vezes se concentra no desenvolver projetos envolvendo os profissionais na busca de resultados. “Quando todas as pessoas conseguem compreender o seu papel na organização, certamente elas darão o melhor de si para concretizar o projeto e a sua conexão estará muito focada na busca de soluções para o trabalho e não terá tempo para estar a todo instante usando aplicativos.”
Com a palavra, os usuários
Nas empresas, funcionários e gerentes comentam o uso do telefone celular durante o horário de trabalho.
Liberado, mais ou menos
De acordo com o gerente Rodrigo Giacomelli, 27 anos, a empresa até possui rede de internet sem fio para uso dos funcionários, mas quem está no balcão - ou seja -, na linha de frente, não pode usar. “A gente usa no segundo piso, na hora do lanche, até para vender, mas quando estamos com clientes, não.”
Liberado
Na butique que Hiasmin Vaz da Silveira, 22 anos, trabalha pode utilizar o celular durante o expediente. No entanto, quando alguma cliente entra na loja: telefone dentro da bolsa. “Quando estamos em atendimento, o telefone fica guardado. Essa é uma prática. No momento em que podemos usar, não tem problema.”
Proibido
Conforme o vendedor Daniel de Castro, 21 anos, até bem pouco tempo, ele e os colegas podiam usar o telefone. “Mas alguns colegas, de outras filiais, abusavam no uso e foi uma determinação da direção. O telefone celular fica dentro de uma caixa e só pode sair de lá em caso de urgência.”
Pais denunciam uso de celular por professor
Em 14 de janeiro, o portal de notícias de O Informativo do Vale, região do Vale do Taquari, publicou uma denúncia feita por pais de alunos da Educação Infantil, em Lajeado, sobre o uso de telefone celular por parte dos professores de uma Escola Municipal de Educação Infantil (Emei).
O pai, que preferiu não se identificar, encaminhou uma fotografia que mostra uma suposta funcionária de Emei utilizando o telefone enquanto crianças brincam na sala.
Consultada, a secretária municipal de Educação, Eloede Conzatti, afirmou ter sido a primeira vez que uma denúncia dessa natureza chegava à Secretaria. “Assim como em qualquer empresa, existem políticas para o uso de telefones celulares nas secretarias municipais. Em algumas escolas do município nós proibimos até mesmo a entrada de alunos com aparelhos”, disse em entrevista.
A secretária prometeu investigar o caso e tentar descobrir se a denúncia tinha procedência, na intenção de tentar corrigir o problema.
Em questão
Veja o que diz a advogada Alice Maria de Oliveira, especialista em Direito Trabalhista Empresarial, sobre o uso do telefone celular no trabalho
- O empregador pode proibir o uso do telefone celular durante o horário de trabalho?
- Sim, o empregador tem o direito de proibir o uso do celular para fins particulares durante o horário de expediente ou regulamentar a forma como os empregados devem utilizar o telefone. O celular pode trazer diversos problemas como acidentes de trabalho, vazamento de informações confidenciais e principalmente perda de produtividade.
- Qual seria, do ponto de vista legal, a postura ética adotada pela empresa, no que diz respeito ao uso de celular no horário de expediente?
- Caso a empresa pretenda realizar a proibição do uso do celular particular a primeira medida é implantar uma normativa interna, como uma circular. Um regimento interno ou até mesmo via acordo ou convenção coletiva. É importante também dar publicidade à proibição do uso do telefone celular, fazendo todos os funcionários assinarem um documento, destacando que estão cientes da nova norma.
- O uso de celular no trabalho pode render uma demissão? Por quê?
- Sim. Existindo uma norma interna, que proíba o uso do celular no ambiente de trabalho, o descumprimento dessa norma autoriza o empregador a aplicar as sanções disciplinares cabíveis, como advertência, suspensão ou até mesmo a dispensa por justa causa, em casos de reincidência.
A especialista em carreiras Ana Giovanoni explica que para evitar “atritos” no ambiente de trabalho, é importante que o profissional tenha claro quais são seus objetivos de vida. Ela oferece duas dicas.
Conheça o seu perfil. Encontre algo que você ama realizar e você nunca mais terá que trabalhar. Seu trabalho será um prazer, uma felicidade ao acordar pela manhã e saber que tem um local maravilhoso para desenvolver sua performance, aplicar seus conhecimentos e contribuir com novas ideias. Saber que neste local que você trabalha, você está contribuindo com uma causa maior que você acredita.
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